O Diário de Any Livic

Capítulo 22

Eu estava exausta!
Eram tantas festas, tantos compromissos, tantas aparições públicas!
Fora isso eu precisava ensaiar, estudar música, e continuar me empenhando no trabalho.
E fazia parte do meu emprego dar concertos pela cidade.
Tinha vezes que eu dava dois concertos no mesmo dia.
Chegava em casa já quase cinco horas da manhã.
Quando todos estavam acordando, se preparando para ir trabalhar, ou para ir para a escola, eu estava indo dormir.
Às vezes ficava muito difícil coordenar esses horários com os horários da minha família. Cheguei a ficar semanas sem vê-los por conta disso.

Mas Lilly-Bo Chique estava cuidando muito bem de mim!
Ela fazia umas gororobas meio doidas, que jurava que ajudava a recuperar as energias para enfrentar as maratonas que estavam por vir.
Na maioria das vezes funcionava.
Any Livic: Contanto que não me dê dor de barriga, ta tudo bem, Lilly!
Lilly-Bo Chique: Não, não, pode confiar, Dona Any!

Dona Any! Ta aí uma palavra que não combina nada comigo: dona. Não sou dona de nada, nem de ninguém.
Mas a Lilly tinha um jeito muito particular de me fazer companhia.
Sim, porque ela passou a ser a pessoa mais próxima a mim.
Fosse a hora que fosse, sempre que eu chegava em casa, tão cansada que nem sabia onde estava, ela sempre estava a postos para fazer algo para comer, preparar um banho gostoso, ou até mesmo fazer uma massagem nos pés.

Any Livic: Mas não precisa disso, Lilly!
Lilly-Bo Chique: Dona Any, o sr. Matthew me fez JURAR que cuidaria da sra. Como se fosse um bibelô!
Any Livic: Ai, Lilly, como você é exagerada! Duvido que ele tenha dito com essas palavras...

A Lilly também me ajudava na composição das músicas. Sempre que tinha algum material novo, ela era a primeira a ouvir.
E ela era tão entusiasmada! Era impossível ficar triste ou deprimida perto dela.
Bom, começando pelo visual, né? E depois pela própria personalidade.
É muito bom ter pessoas assim por perto.

Mas ela também me lembrava que a vida não era só de trabalho.
E olha que eu trabalhava duro todos os dias!
Ela me lembrava que era preciso parar às vezes, para que o corpo e a mente pudessem se recuperar. “Se não a gente pira!” – dizia ela.
Então assistíamos TV.

Lilly-Bo Chique: MEU DEUS! Rouben Littler morreu?
Any Livic: Não acredito! Tão jovem!

E então, depois da chamada dos noticiários, quando aparecia a reportagem inteira...

Lilly-Bo Chique: Aaaaaaah, ele morreu no filme novo que está fazendo... Nossa, que susto!
Any Livic: Ai, como eu odeio esse sensacionalismo todo!
Lilly-Bo Chique: Eu também! Pra que colocar uma manchete dessas? Querem matar o telespectador de susto!
Any Livic: Eles fazem isso pra segurar a audiência, Lilly. Ai, como eu odeio a imprensa!

Mas eu sabia que a imprensa era um “mal” necessário.
Na verdade nem todos eram ruins. Mas tinham alguns que realmente desafiavam a paciência da gente.
Mas com isso eu aprendi a levar a vida de forma mais leve, e passei a aproveitá-la um pouco mais, pois não importava o quanto eu ralasse, o quanto eu me esmerasse, sempre ia ter um bobo que ia falar mal de mim, inventar fofocas, torcer pra eu ter um chilique, meter os pés pelas mãos, e perder tudo que eu conquistei com tanto suor.
E isso eles jamais iriam ter de mim. Porque se tem uma coisa que eu aprendi com os Hamming era ter paciência, autocontrole e compostura.

Então tudo voltou a correr nos trilhos novamente.
Apesar de muito trabalho, esse trabalho também era divertido e extremamente gratificante.
Não demorou muito para que eu passasse de Vocalista Substituta para Guitarrista Solo.

Any Livic: Nossa, Lilly, jantar especial?
Lilly-Bo Chique: É pra comemorar a sua promoção!

“Pelo menos não vou comemorar sozinha” – pensei.

Any Livic: Ai, mas isso tá tão gostoso! Deve ser calórico pra chuchu!
Lilly-Bo Chique: Chuchu? Não tem nada de chuchu nessa receita não. Mas essas calorias todas a sra. perde rapidinho, no próximo show.
Any Livic: Ah, isso é verdade, Lilly!
Lilly-Bo Chique: Eu também deixei um banho bem gostoso preparado pra sra.
Any Livic: Maravilha! Só você mesmo pra cuidar de mim assim, Lilly! Pode ir descansar que você já fez muita coisa hoje. Muito obrigada!

Eu me divertia com as nossas conversas sem noção!
Depois do banho eu não tinha sono. Queria continuar saboreando a minha promoção pelo máximo de tempo que pudesse.
Escrevi para a Melody contando a novidade, liguei para um monte de gente pra compartilhar minha alegria.
Então me sentei no piano e compus uma música. A letra era puramente emocional. Saiu praticamente sem controle, como se ela se tivesse feito sozinha. Mas ainda não sabia qual nome colocar.

Matthew Hamming: Que música linda, Any! Acho que é a mais bonita que você já compôs.

Any Livic: Matthew! Não sabia que você estava em casa!
Matthew Hamming: Acabei de chegar. Por favor, não pare por minha causa! Continue tocando, estava lindo demais!

Any Livic: Ainda não sei que nome dar para ela.
Matthew Hamming: Deveria se chamar “Tonsevee”.
Any Livic: É uma boa idéia!
Matthew Hamming: É inspirada em alguém em especial?
Any Livic: Não sei... Eu simplesmente sentei no piano e toquei.

Matthew Hamming: Geralmente essas são as melhoras músicas, as que fazem mais sucesso. Você melhorou muito, Any! É incrível a diferença. Não é à toa que está subindo tanto na carreira. Eu soube da promoção. Parabéns! Você merece. Cada vez tenho mais certeza que a melhor coisa que fiz foi investir nos seus estudos e na sua profissão.
Any Livic: Puxa, Matthew, obrigada! E a Melody, onde ela está?
Matthew Hamming: Ela não veio, Any. Não desta vez.

Any Livic: Ah... Matthew, eu me sinto tão culpada!
Matthew Hamming: Não seja boba, Any! Você não tem culpa de nada.
Any Livic: Nada tira da minha cabeça que ela decidiu ir embora por causa daquela maldita foto nossa, que colocaram de forma tão distorcida no jornal. Como puderam fazer algo tão cruel, Matthew? Como puderam inventar tanta mentira, tanta intriga, porque estávamos apenas tomando um drink em um local público? Como as pessoas podem ser tão maldosas, tão cruéis, tão... Tão... Tão mesquinhas, a ponto de inventar tamanho absurdo? Elas não pensam que com isso podem destruir uma família? Eu não me conformo com isso, Matthew! Jamais vou me conformar! Que mente mais perversa essa gente tem!

Matthew Hamming: Mas Any, por que isso seria assim tão absurdo pra você?