O Diário de Any Livic

Capítulo 17

A volta para Bridge Port não foi fácil.
Nos primeiros dias eu fiquei deprimida, trancada no quarto, com medo de sair, sem saber o que me aguardava do lado de fora.
Só dava as caras quando alguém da minha família vinha me visitar.
Melody estava muito preocupada, e meus pais também, mas Matthew pedia a todos que tivessem calma, que isso era normal.

A verdade é que eu morria de medo de encontrar o Miguel pela cidade.
Apesar de não freqüentarmos os mesmos lugares, não dava pra descartar essa possibilidade.
E o simples fato de revê-lo, talvez noivo, casado, ou apaixonado por outra mulher que não fosse eu, partia o meu coração.
Mas isso era algo que não se podia evitar. Um dia iríamos nos reencontrar e constatar que o tempo passou para nós dois, e que ambos decidimos tocar nossas vidas.

Depois de um tempo eu comecei a perder o medo, e voltei à minha rotina normal.
Logo na primeira vez que saí, conheci Beau Merrick, que foi muito gentil e atencioso, dizendo ser um grande fã.
Mostrou o que sabia fazer de melhor, além de ser encantador, claro: cantar.
Não tive dúvidas e logo o convidei para formar uma banda comigo e com a Melody.
Batizamos a banda de Plumbbob.
Matthew não gostou muito do nome, disse que era muito clichê, mas até que escolhêssemos outro nome, era assim que seríamos chamados.

Era muito estranho e ao mesmo tempo excitante andar pelas ruas de Bridge Port.
As pessoas paravam pra pedir autógrafos, tirar fotos...
Claro que não era como em Champs Les Sims, pois ainda não éramos tão conhecidas assim em Bridge Port, mas já era alguma coisa.
As pessoas nos associavam mais à amiga da filha e a filha de Matthew Hamming, do que ao nosso talento mesmo.
Mas não tinha problema, afinal tínhamos que começar por algum lugar.

Sempre que as pessoas se juntavam ao nosso redor, eu procurava um rosto familiar. Mas não, nunca via Miguel. Não sei se isso era bom ou ruim.

E Matthew achou que não havia melhor lugar pra eu começar do que arrumar um emprego na carreira musical.
Eu teria que começar de baixo mesmo, pra aprender tudo. Não tinha problema nenhum com isso, pois sabia que quando chegasse no topo estaria bem preparada para qualquer coisa.

Comecei como fã. Bom, não há nada de mais nisso, a não ser ficar atrás de uma banda lá da cidade... Mas já era alguma coisa.
Eu observava tudo e todos, procurando absorver o máximo de conhecimento possível.

Enquanto isso, sempre que aparecia uma oportunidade, Matthew nos convidava pra tocar com ele nos Bares e points da cidade.

Em pouco tempo as pessoas começaram a nos convidar para freqüentar os locais quentes.
Éramos pagos para simplesmente aparecer num lugar e pedir uma bebida...

...ou então dançar por algumas horas.
As pessoas jogavam Simoleons em cima de nós como água. Estávamos ganhando muito dinheiro, mas ninguém chamava a nossa Banda para se apresentar em lugar nenhum.
Parecia que estavam mais interessados no nosso status de celebridade, do que no nosso talento.
E isso me deixava frustrada, impaciente.

Matthew finalmente ganhou o Prêmio Simmy.
Aliás, não só esse prêmio ele ganhou, mas todos os prêmios possíveis e imagináveis do Universo.
No dia em que ele ganhou o último prêmio que faltava ganhar, desabafou para nós que estava com vontade de se aposentar. Que o que ele queria agora era investir na nossa carreira e colher os frutos de tudo o que ele fez esses anos todos.
Eu achei isso muito bom, mas Melody ficou abalada.

Em pouco tempo eu já havia sido promovida para Roadie, uma espécie de faz tudo pras bandas.
Estava frustrada, muito frustrada.
Passávamos horas e horas ensaiando, mas não aparecia nenhum show pra nossa própria banda fazer.

Além dos exaustivos ensaios, também tínhamos que manter a forma, para termos boa apresentação no palco, muito fôlego, além de manter a aparência – que aprendi ser fundamental para essa carreira.
Toda a nossa alimentação era rigorosamente controlada.

Às vezes dávamos uma escapadinha, e saíamos da dieta, escondidas do Matthew.
Mas acho que no fundo ele sabia das nossas estripulias e fazia vistas grossas.

O melhor de tudo era estar perto da minha família.
Brincar com meu sobrinho era o melhor acontecimento do dia. Contava as horas para vê-lo!
E quando acontecia algum contratempo, e não podia ir na casa dos meus pais, eu ficava mais frustrada ainda.

Minha irmã estava se virando muito bem! Sempre que nos encontrávamos ela me contava de algum cara novo que ela tinha conhecido.
Apesar da minha mãe dizer que a vida amorosa da Julie tinha acabado por causa do filho, ela nunca deixou de ter pretendentes. Mas agora era diferente, pois ela tinha medo de ter um relacionamento sério, que gerasse expectativas no Joseph, e se desse errado, não apenas ela, mas ele também sofreria. Então ela tinha os seus casinhos, mas mantinha todos longe dos olhos da família.

Apenas eu continuava sozinha. Tinha muita vontade de perguntar pra Julie se ela sabia do Miguel. Mas ficava com medo da resposta, então me calava.

Eu havia sido promovida pra Assistente de Palco. Tinha que me familiarizar com os equipamentos de iluminação, mesas de som, realizar testes dos microfones... Isso era tão maçante!
Eu ficava com muita raiva de ter que cuidar do show dos outros, enquanto a minha Banda mesmo não conseguia uma apresentação sequer!
Então meu chefe recomendou que eu lesse um livro chamado A Vida Dura na Estrada do Rock.
Não diga! Parecia escrito pra mim!
Apesar de tudo isso, Melody e eu estávamos inseparáveis.