O Diário de Tamirez
História inspirada na personagem do livro Sob os Olhos de Natasha
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Por Meh Souza

Duas e quinze da noite. Mas quem é que dorme com esse barulho todo? Ainda mais eu, que tenho sono leve. O jeito é olhar para o teto e esperar o dia amanhecer. Não há nada o que eu possa fazer. É assim toda noite.

Eles ficam horas fazendo amor, fingindo que eu não existo. Uma falta de respeito completa. Mas quem disse que eu posso exigir alguma coisa nessa casa? Depois que meu pai foi embora de casa, eu perdi toda a importância para a minha mãe. Minha opinião não conta. E aquele velho...

Arg! Só de pensar nele já sinto náuseas. Aquele velho escroto que se apossou da minha casa, faz o que quer com minha mãe e é todo autoritário comigo. Eu não suporto ele! Mas quem disse que eu posso fazer alguma coisa para mudar a situação? Eu sou a Tamirez, como a própria Natasha me diz: eu sou uma falsa, uma acomodada.

O jeito é levantar e preparar o café da manhã. Se eu não fizer, ninguém fará. É por isso que quero entrar na faculdade e conseguir um emprego. Quero passar o maior tempo possível fora daqui. Se eu sou falsa é porque tive que aprender a ser. Se eu sou acomodada é porque não me restou opção.

Nem namorado eu consigo arrumar! Mas pelo menos eu sei preparar uns lanchinhos sem a supervisão de ning...

Ops! Acho que aqueci o forno demais. Agora tudo vai se incendiar, ótimo!

Meu pai, tá aumentando mesmo. O que faço? Pensa Tamirez, pensa... Corre!

SOCORRO! Fogo! Ajuda! Corre! Bombeiro!


Ahhh! Nunca imaginei que meu fim seria assim...

 

“Essa sua filha... vou te falar, viu! Só nos traz problemas!”
“Não fale assim, ela não teve culpa...”
“Pelo menos ajudasse a concertar isso! Mas não, saiu correndo como uma louca!”
“Você sabe que a Tamirez é um pouco medrosa. Qualquer coisinha e ela já desmaia”
“TAMIREZ!”

“Eu não tenho tempo nem paciência para ficar consertando seus erros, sua garota malcriada, desastrada e irresponsável!”

Eu não sabia se sentia raiva ou tristeza quando ele falava daquele modo comigo. Não é por menos que meu coração era carregado de mágoa.

Mas o que mais me revoltava era a minha mãe. Ela não tinha reação nenhuma.

“A senhora não vai fazer nada? A senhora vai deixar ele falar assim comigo sempre? Me tratando como se eu fosse uma inútil? Ahh, mãe!”

“Ta certo. Vamos parar com essa conversinha repetitiva que eu estou morrendo de fome. O jeito vai ser tomarmos café na lanchonete, graças a Tamirez Cruz!”

A lanchonete da esquina não era o local mais agradável para fazer uma refeição. Aliás, nada na minha vida era agradável. Mas aquele ambiente cheirava a álcool. Estava mais para um bar... Mas era só ali que meu padrasto comia.

Ás vezes eu pensava que minha mãe o aturava por causa da vida boa que ela levava. Ela não precisava trabalhar e tinha tudo à sua disposição. Claro que o mesmo não acontecia comigo. Eu tinha a impressão que eles não vissem a hora que eu caísse fora de casa.

Aquela vida fez de mim uma garota angustiada. Eu tinha a sensação de que não tinha para onde correr, onde me esconder. A sensação de que seria assim para sempre. Se ao menos eu tivesse uma amiga ou um amor... Eu até tinha umas colegas na escola, mas não eram lá aquelas coisas...

Aquele velho pançudo só sabia ficar o dia todo no sofá soltando pum. E o que eu podia fazer contra ele? Nada. Se ao menos eu soubesse que minha mãe o aturava... Mas ela tinha se tornado uma mulher omissa desde que meu pai saiu de casa, quando eu tinha nove anos. Acho que ela tinha medo de ser uma coroa solitária.

Eu mal conseguia me concentrar nas minhas tarefas escolares. Vivia copiando tudo da internet. E claro que isso ficava explícito no meu boletim... Todavia, eu tinha a impressão de que pelo menos isso iria mudar depois que conheci a Natasha. Ela era uma garota tímida e distante da mesma sala que eu, que não falava com ninguém e era muito inteligente. No começo, fiquei com um pouco de receio de me aproximar, mas ela era inofensiva. Pelo menos, parecia inofensiva.

“Então Tamirez, continua encalhada?”
“Não é da sua conta”
“Tamirez! Isso são modos?”
“Mas mãe, foi ele que me provocou!”
“Chega! Não aturo suas infantilidades!”
“Ok, chega de discutir, amor. Essa garota só vai aprender a se comportar depois de levar umas palmadas...”
“Você nunca vai encostar a mão em mim!”
“O que te garante isso?”

Olhei para minha mãe, ela olhou para o prato.

“´Perdi o apetite.”
“Não se esqueça de voltar para lavar a louça”

Fui direto para o computador. Minha vida virtual era bem mais emocionante.

“Oi Michele. Como vai?”
“Eu vou bem, e você?”
“Na mesma de sempre. Será que um dia essa vidinha sem graça vai mudar?”
“Não sou muito boa em adivinha o futuro, mas posso te indicar uma pessoa...”
“O que?? Tá sugerindo que eu consulte meu futuro?”
“E por que não? Fui na cartomante o ano passado e ela acertou toda a previsão deste ano!”
“Certo. Eu até iria, mas só se você fosse comigo...”
“Nem morta, estou devendo para ela até hoje... Vai que ela me joga uma macumba?”
“Ahh, eu não tenho coragem de ir sozinha...”
“Chama aquela sua amiga esquisitona...”
“Natasha?”
“É. Por que não?”

É. Por que não?

“Ok Tamirez, diga logo o que quer.”
“Vou ser bem direta: Quero ir numa cartomante, mas não tenho coragem de ir sozinha.”
“Cartomante? Eu não conheço futuro mais previsível do que o seu! Você vai entrar na faculdade, se apaixonar pelo primeiro professor bonito que te elogiar e ter três filhos. Vai largar a faculdade no meio e nunca vai conseguir um emprego decente. E vai se consultar com uma psicóloga para esquecer o seu padrasto, e vai trabalhar por meses de garçonete para pagar as roupas da última moda...”
“Não brinca, é sério. Poxa, eu preciso saber o que o futuro me reserva! Não quero ficar sempre nessa...”
“Você reclama demais, isso sim.”

Ela era grossa, sim. Ela era fria, sim. Mas ela não fazia mal a ninguém. Natasha tinha um temperamento agressivo, não gostava de ser incomodada e nem era de falar muito. Vivia usando frases irônicas e preferia passar a maior parte do tempo sozinha. Mas eu sabia que no fundo ela sofria, que no fundo ela amava...
Naquela noite, ela aceitou ir à cartomante comigo. Mas eu não imaginava que a revelação que ela receberia mudaria toda a estrutura da sua vida... e me prejudicaria diretamente...

Se eu continuar, ninguém vai querer comprar o livro, rsrs.

Esta história foi escrita por Meh Souza, com autorização para postagem no site www.thesimstv.net
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