Lorena Frantz
Capítulo 4 - A Esquisita
Por Meh Souza

Estávamos completando um mês de moradia em Appaloosa e a única amizade que eu tinha feito era a Lily. Lily era minha melhor amiga, mas ela era um cachorro e eu sentia falta de conversar com uma pessoa humana da minha idade.
A Crestview era tão puxada que eu me concentrava tanto em sala de aula que não tinha condições para reparar nas outras garotas da classe. No intervalo eu sempre comia o almoço que a Samanta preparava para mim, então não pegava fila na merenda nem na cantina.
Como eu era uma das primeiras a sentar no refeitório para almoçar, esperava ansiosamente que alguém se juntasse a mim, mas nada.

Naquele dia, porém, foi diferente. Uma garota se sentou ao meu lado dizendo que o cheiro da minha comida estava delicioso e se ela podia pegar um pouco. Foi uma surpresa e tanto, afinal, era uma coisa bem esquisita para se dizer a uma desconhecida.
Mas, aliás, Benni era esquisita por todo. Claro que eu sabia o nome dela, todos a conheciam, desde garotos e garotas a professores e funcionários da escola. Ela sempre usava maquiagem forte e umas roupas exóticas com a mesma estampa que, se não me engano, ela mesma confeccionava.
E ninguém ousava tirar sarro dela porque ela era bem brava.

Passamos o intervalo juntas. Parece que só agora ela havia se tocado de que havia uma garota nova na escola. Ela me contou tudo sobre os alunos, tudo mesmo, em quem eu podia confiar, quem não prestava, essas coisas. Contou-me até os podres de alguns professores.
Benni: É Lorena, né? Caramba garota, você é muito quietinha.
Eu também compartilhei com ela a história da minha vida, disse que fazia parte do clube dos populares na minha escola também. Mas não porque eu era esquisita. Não disse isso para ela, claro.

A Benni usava o transporte escolar também, e ela se sentou comigo na hora de irmos embora. Todo mundo cumprimentava ela quando passava e, como eu estava com ela, todos me cumprimentavam.
Eu realmente não esperava que soubessem meu nome, mas parecia que todo mundo me conhecia. Talvez eu não havia feito amizades ainda porque não havia tomado nenhuma iniciativa. Estava tão acostumada com as pessoas se aproximarem de mim espontaneamente que não imaginei que seria necessário eu puxar papo com alguém.
Ok, acho que fui um pouquinho esnobe, mas só um pouquinho.

Benni me convidou para fazermos nossos deveres na casa dela. A casa dela era um tanto legal, dava para ver que ela pertencia àquele lugar mesmo, tudo era bastante colorido, inclusive os moveis.
Lorena: Porque você quis ser minha amiga, Benni?
Benni: Ora, só me aproximei por causa da sua refeição. Não sabia que você era legal.
Lorena: E... O que os outros falam sobre mim?

A essa altura já tínhamos terminado as tarefas e Benni estava me colocando a par dos comentários da escola. Pelo visto, eu era o assunto do momento.
Benni: Dizem que você é muito tímida. E que é muito CDF na sala de aula. E que desenha muito bem.
Lorena: É isso que eles dizem?
Eu achei que ia ouvir que eles falam que sou metida, esnobe, burra ou sei lá mais o que. Até dos meus desenhos eles sabiam! Porque, claro, ninguém nunca me superou na aula de artes, isso era fato.
Benni: Ah, e seu apelido é patricinha.
Lorena: Apelido? Patricinha? Porque?
Benni: Por que você vai para a escola como se estivesse indo participar de um desfile de moda. E porque sua mãe trabalha na empresa mais importante da cidade. E porque você tem uma empregada! A maioria aqui mora em sítio e tem pais fazendeiros, e ninguém tem empregada.
Eu estava chocada.

Benni: Ei, porque não vai com a gente no Point?
Point parecia ser o que eles chamavam de balada, e a maioria dos adolescentes gostavam de ir lá aos finais de semana. Eu estava muito empolgada, essa seria uma forma de me aproximar dos outros e mostrar que eu não era assim tão CDF como eles pensavam.
Além disso, Benni era um tanto divertida e eu tinha certeza que ela faria da noite uma festa. Mas confesso que fiquei um pouco decepcionada com seu modelito, ela parecia estar usando as mesmas roupas, mas com estampas diferentes.

No sábado eu convidei a Benni para almoçar em casa. Minha mãe tinha ido trabalhar naquele dia, e como era folga da Samanta eu disse para ela ir passear que a gente se responsabilizava pelo almoço. Por isso, quando minha mãe chegou, tínhamos preparado uma porção de cachorros quentes, sugestão da Benni, afinal era seu prato favorito.
Benni continuou fazendo suas piadas na mesa, e mais uma vez confesso que fiquei um pouco constrangida, pois vi que minha mãe não estava apreciando muito as suas gracinhas. E eu realmente preferia que ela não tivesse contado os detalhes da balada de ontem.

Mas a gota d’água foi quando ela falou sobre o Gabriel.
Benni: Dona Elisabete, a senhora sabia que a Lorena tem um paquera na Crestview? O nome dele é Gabriel, e ele é muito gostoso. Todo mundo acha que eles formam o par mais fofo da escola.
Engasguei com a comida, fiquei vermelha como um pimentão e não consegui olhar nos olhos da minha mãe. Era verdade que eu e o Gabriel andávamos flertando um com o outro, mas não estávamos juntos nem apaixonados nem nada!
E, aliás, eu e a minha mãe não conversávamos muito sobre meninos. Até porque eu nunca namorei sério.

Naquela noite, antes de irmos curtir a cidade, sugeri a Benni que fossemos ao salão de beleza. Disse para ela que tinha coisas que nossos pais não precisavam saber e fiquei surpresa quando ela retrucou que ela e os pais dela falavam sobre tudo. Acho que seus pais tinham noção de que a filha não batia bem da cabeça.
Mas, bem, eu falei para ela me deixar cuidar da aparência dela naquela noite. Disse que ia deixar ela linda, que não precisava se preocupar e que ela ia adorar.
Benni confiou em mim. Então eu tirei tudo o que eu não gostava nela: As mechas pretas no seu cabelo lindo, a maquiagem forte que ofuscava seus olhos claros, as roupas extravagantes.

Mas ela não pareceu satisfeita com tudo.
Benni: Agradeço suas dicas de moda, sua aula de etiqueta e boas maneiras. Mas você não pode mudar quem eu sou, Lorena. Se você não gosta de mim porque me acha esquisita, então não sei porque continua andando comigo. Você pode fazer amizades sozinha, não precisa de mim.
Depois ela foi embora e me deixou lá, sentindo-me péssima, ofendida, magoada e com remorsos. Remorso porque no fundo eu sabia que ela estava certa. Fui para casa me sentindo a pior amiga que existe na face da terra.

A Benni foi a única garota da escola que se aproximou de mim, ela me convidou para sair e me mostrou como se enturmar. E eu havia desprezado ela. Já estava achando que ela tinha desistido da nossa amizade e que no dia seguinte eu iria voltar a comer sozinha no almoço quando a campainha tocou e, ao abrir a porta, lá estava ela, usando roupas normais e se maquiado do jeito que eu tinha lhe ensinado.

Benni: Oi Lorena. Olha, me desculpe por ontem. Acho que você estava certa. Quando cheguei em casa sabe qual foi a primeira coisa que meus irmãos e meus pais me disseram? “Até que enfim você desistiu daquelas roupas ridículas!”. Eu não sabia que todo mundo me achava feia. Achei que gostavam, que achavam legal eu ser diferente. Você foi sincera o suficiente para tentar me mostrar isso nem me ofender, e eu entendi tudo errado.
Lorena: É isso que os amigos fazem, né?

A cena a seguir poderia ser de um abraço ou lágrimas correndo. Mas essa história e de Benni, e o jeito de ela se expressar era um tanto diferente. Ela preferia fazer uma piada, jogar a cabeça para trás e rir. Logo percebi que era esse seu jeito descontraído e prático que eu gostava tanto.

Minha mãe que pareceu nem um pouco satisfeita por a minha melhor amiga ser a esquisita da escola. Mas depois que Benni me ensinou o teorema de Pitágoras (envergonho-me em dizer que até então eu nunca tinha compreendido o tema muito bem), conquistou o carinho de Samanta ao ajudá-la a arrumar a cozinha após a janta, brincou de pega-pega com a Lily e assistiu ao programa de televisão favorito da minha mãe com ela (algo sobre perguntas e respostas que eu sinceramente detestava), acredito que Dona Elisabete já tinha mudado sua opinião sobre ela.

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