Lorena Frantz
Capítulo 1 - Tudo por um Cockier Spaniel
Por Meh Souza

O Sol já começava a se por quando chegamos em Appaloosa Plains, a cidade que prometia fazer minha mãe subir na carreira. Ela era uma ótima gerente comercial, mas dizia que em Sunset Valley não teria o reconhecimento que merecia.
Appaloosa Plains era a típica cidade do interior com os comércios em expansão, como me assegurou minha mãe. Mas eu não tirava da cabeça que só ia encontrar um monte de caipiras na escola nova.

Elisabete: Coloca um sorriso nesse rosto, Lorena!
Minha mãe não parava de me vigiar pelo retrovisor.
Eu não estava nem um pouco feliz por ter deixado minha cidade natal para trás, junto com a minha adorada escola e meus muitos amigos. Todavia, a ideia de começar uma vida nova, onde eu poderia adotar outra personalidade, até que era atraente. Era como se eu fosse ter outra identidade. Assim esperava eu, pelo menos.
Esperava ter uma melhor amiga e viver meu primeiro romance. Ambas as coisas nunca tinham me acontecido, e olha que eu estava com quase dezesseis anos. Não que faltasse atenção, todas garotas queriam ser minhas amigas, todos os caras me paqueravam. Mas nada assim muito sério.

Só vim porque, diante do meu esforço, mamãe me prometeu que eu poderia adotar um bichinho de estimação. Ela disse que assim que chegássemos na cidade iríamos ao abrigo de animais mais próximo para eu escolher meu monte de pelos (palavras dela), desde que eu assumisse total responsabilidade sobre ele.
Mas eu estava tão cansada que tudo o que queria era tirar uma boa noite de sono. Todavia tínhamos que desencaixotar as coisas e tudo mais. Ainda bem que trouxemos Samanta conosco, ela era nossa empregada desde... Bem, desde sempre. Conhecia minha família como ninguém e não havia ninguém melhor para o cargo dela, por isso ela veio junto. Na verdade ela foi seduzida pela proposta de um aumento no salário, mas tudo bem.

Minha mãe ficou bastante empolgada com as condições da casa. Imagino que ela estava especulando como ia usar suas habilidades com decoração já que tinha um espaço totalmente novo precisando urgentemente disso. Eu, particularmente, não fiquei tão satisfeita assim. Meu quarto era minúsculo, e a garagem era descoberta. Não tínhamos um escritório, e mal dava para pisar na sacada que, aliás, foi descrita pelo corretor como uma “varanda ampla com uma vista maravilhosa”.
Mas eu tinha que me contentar e não mostrar emoções negativas. Qualquer sinal desse e bye bye amado bichinho de estimação.

Depois de toda a arrumação básica, estávamos exaustas e mortas de fome. Por sorte, Smanta havia se adiantado na cozinha para preparar um macarrão com queijo suculento.
Ela não comentou nada, mas sei que a cozinha não era como a dos seus sonhos. Na nossa casa antiga Esmeralda tinha um cômodo espaçoso com várias bancadas à sua disposição. Minha mãe trouxe as parafernálias domésticas mais importantes, mas eu tinha certeza que o espaço para expor suas habilidades culinárias a decepcionou um pouco.

Samanta era uma cozinheira de mão cheia, ela mesma cultivava seus ingredientes, olha só! Apostávamos no seu talento para ela conseguir se virar com o que tinha na cozinha para preparar uma refeição decente. Afinal, comida era uma das coisas que não pode ser trazida aos montes no caminhão de mudança para não estragar, então digamos que ela não tinha muitas opções para cozinhar.
Todavia, eu sabia que um dos segredos de Samanta é que ela misturava uns ingredientes para criar uma espécie de tempero secreto, e que ela sempre matinha um vidrinho desses no bolso do avental. Mamãe não sabia disso, e confesso que estava um tanto receosa para o que teria para o jantar.

Felizmente, ela não nos desapontou. A comida estava exemplar. Exceto que tivemos que comer em potinhos de cereais porque não achamos os pratos.
Não demorou muito para que minha mãe começasse a me questionar sobre a casa e tudo mais. Veja bem, sei que não é muito educado falar durante as refeições, mas era praticamente somente eu e minha mãe naquela casa, e ela trabalhava tanto que não tinha tempo para se dedicar a entretenimentos familiares e tal, de modo que aproveitava as refeições para trocarmos meia palavra.
Pelo menos ela tentava conservar as refeições em família, já que saía antes de mim para ir trabalhar e só chegava pouco antes da janta. Nos finais de semana ela sempre tinha algum trabalhinho extra para fazer no computador. Isso quando ela não precisava fazer uma viagem de negócios e ficava fora uns três dias.

Talvez seja por isso que ela me incentivava tanto a fazer amizades. Para eu não sentir tanto a sua falta. Um animal resolveria tudo, é claro, me manteria tão ocupada que eu não sentiria falta de nada, pelo menos assim pensava ela.
Eu realmente acho que minha mãe deveria arrumar um namorado. Sério. Não que eu quisesse um novo pai, mas achava que minha mãe era uma mulher muito carente. Apesar de que ela não costumava me contar sobre seus encontros ou amizades feitas no trabalho. Aliás, desconfio de que nem sempre ela saía para reuniões de negócios num sábado a noite. Mas eu não queria fazer perguntas e deixá-la desconfortável, uma hora ela entenderia que uma garota de dezesseis anos já é bem grandinha para entender as coisas.

Elisabete: Então, meu bem, o que você achou da casa nova? Sei que não é como nossa antiga casa, mas foi o melhor que pude arranjar pela internet. Tenho certeza que conforme nos adequarmos na cidade encontraremos uma casa melhor.
Lorena: Mãe, está ótimo. Tenho uma suíte, e ela é toda cor-de-rosa! Além disso, eu sei que fora esse bairro nos resta a área rural ou as mansões dos empresários. Também pesquisei sobre a cidade na internet.
Elisabete: Humm. Bem, você não está consentindo facilmente por causa do bichinho que lhe prometi, está? Aliás, suas amigas de Sunset Valley deram notícias?
Lorena: Bem, ainda não. Meu celular não está funcionando bem... Acho que ter um bichinho para conversar seria bom, não me sentiria tão sozinha, afinal, estamos num lugar novo e eu não conheço absolutamente ninguém, e a senhora...
Elisabete: Eu sei, querida, eu sei. Amanhã, está bom? Mas tem que me prometer que vai deixar ele longe do meu quarto. E da cozinha. E...
Lorena: Mãe!
Eu sabia que o papo de solidão iria tocá-la.

Enquanto tomava meu banho, pensei sobre o que iria encontrar no abrigo para animais da cidade. Eu ainda não havia decidido o que queria. Podia ser um cachorro. Ou um ramster. Mas pássaros não, não achava graça. Não tínhamos espaço para um cavalo. E eu era alérgica a gatos.
Quando dei por mim, estava quase desmaiando de sono. Realmente, foi um dia e tanto. E ficar naquela banheira quentinha me fazia relaxar que eu quase dormi ali mesmo.

Deitei-me cheia de expectativa, e já passava da meia-noite. Em breve encontraria me companheirinho!
As aulas, o trabalho sério e a vida normal começariam no dia seguinte. Eu estava um tanto ansiosa. Receosa também. Somente Esmeralda parecia não se preocupar com nada. Na verdade, ela estava adorando conhecer uma cidade nova e se ver livre de sua mãe ranzinza. Aliás, sua mãezinha foi seu principal motivo para ela arrumar um emprego de dormir.

Conforme o prometido, eu acordei minha mãe bem cedo para irmos buscar meu bichinho. Enquanto estávamos a caminho, vimos que um abrigo estava fazendo uma feirinha de animais numa das praças da cidade. Tinha muitas pessoas, especialmente crianças, brincando com gatos e cachorros.
Quando vi a pequena Lily (esse era o nome dela) tive certeza de que era ela que levaria para casa. Naquele momento parecia que o fato de ninguém ter se lembrado de mim depois que saí de Sunset não me importava mais. Tudo bem que fizemos uma festa de despedida e tudo mais, mas a partir do momento que cruzei a fronteira senti que estava cortando todos os laços.
Lily representava para mim um novo começo.

Ela era uma Cockier Spaniel, como dissera o organizador do evento. Estranhei bastante haver um cachorro de raça num abrigo. Mas ele me disse que ela era muito tímida, e que isso a impedia de desenvolver relações com outras pessoas ou animais, por isso ninguém a adotava.
Parece que a dona havia ido embora da cidade e não pudera levá-la com ela. Não queria vender o animal porque disse que não havia preço que pagasse. Então deixou nas mãos do abrigo, para entregarem somente a uma pessoa de bom coração.

Não querendo me gabar, mas senti que Lily gostou de mim. Ela ficou bastante serelepe quando tentei lhe fazer um agrado. O senhor me disse que, naturalmente, ela era muito dócil, só precisava de um pouco de afeto e carinho. Logo soube que ela precisava de bastante atenção também, já que era um tanto frágil. A ração, por exemplo, tinha que ser daquelas requintada, de acordo com seu peso e sua idade.
Mamãe ficou um pouco receosa, notei pela sua expressão. Não sei se estava duvidando da minha capacidade, mas não cogitou dizer não diante da minha alegria com Lily. Eu havia encontrado o meu bichinho, e ela sabia disso.

Arrumei um pratinho com água e comida, comprei a melhor casinha de cachorro da loja e ajeitei um canto para ela dormir. Imagino que estava bem acomodada, mesmo estranhando o lugar e tudo mais. Dei-lhe um banho daqueles, coloquei suas vacinas em dia e fiquei me deliciando escovando seu pelo.

Ela dormiria no meu quarto, claro. Mal dormi, toda hora acordava para ver se ela estava bem, e ficava satisfeita em vê-la a vontade e confortável em sua caminha. Isso já seria um crédito para quando fosse praa escola nova, não? Afinal, quem não ia querer ser minha amiga depois de saber da fofura que eu tinha em casa?
O que eu não imaginava é que todo mundo na escola era filho de fazendeiro e estavam pouco se importando com um cachorrinho. Descobri da pior forma possível.

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