Devaneios de Natasha
História inspirada nos personagens do livro Sob os Olhos de Natasha
Curta no Facebook
Por Meh Souza


Seu nome era Gustavo: um garoto comum que morava com os pais e os avôs, tinha um irmão de quatro anos, muitos amigos e uma namorada linda.
O nome da sua namorada linda era Renata: uma garota de corpo bonito, cabelos brilhosos e quadril avantajado. Mimada, egoísta, detestável.


Eu sempre me perguntava o que ele via nela. Ok, além da sua beleza, simpatia e popularidade. Todavia, Renata era falsa, dissimulada, superficial. Ela não tinha amigas, tinha servas. Paparicada pela família, defendida pelas servas.
Mas Gustavo era um garoto tão doce, tão meigo e...
E é claro que ele nunca me enxergaria. Eu era a nerd solitária da escola, que todos chamavam de esquisita. Eu era aquela que fazia trabalhos escolares sozinha e que os professores esqueciam o nome.


Meu nome era Natasha O’Delly.
E eu estava apaixonada por Gustavo.
Mas ele era comprometido com Renata. E o pior é que pareciam muito bem juntos.
Pelo menos até ela começar a ter seus ataques de ciúmes. A garota preservava tanto sua imagem que não admitia qualquer comentário sobre ela que não fosse positivo.


E quando a escola inteira ficou sabendo da minha paixão secreta por Gustavo Moura, ela se sentiu ameaçada.
Primeiro, tentou me eliminar do caminho, mas viu que não tinha como.
Então, tentou tirar Gustavo das vistas. Mas mesmo que eles deixassem de frequentar lugares públicos, eu e ele continuamos a nos encontrar ocasionalmente.


Não é que Gustavo fosse um garoto totalmente ingênuo. Ele simplesmente era como aqueles caras que detestam escândalos, briguinhas e tal.
Portanto, sempre que Renata tentava lhe dar uma bronca, ele abaixava a cabeça.


Mas quando ele ficou sabendo que ela andava me ameaçando, ele não ficou quieto. Ele me defendeu.
E isto foi suficiente para que o namoro dos dois chegasse ao fim.


Fazia pouco tempo que eu tinha deixado meus pais para morar sozinha numa casa humilde.
Não foi fácil deixá-los no estágio em que eles se encontravam, ambos tão idosos e doentes.
Mas eu tinha que fazer isso se quisesse dar seguimento a minha vida, fazer uma faculdade e arrumar um emprego.
Ainda que eu não tivesse a menor noção do que seria da minha vida.


Meu maior hobby era ler. Por que ler era uma atividade individual, capaz de proporcionar imenso prazer sem necessitar de muito mais do que um livro em bom estado e um local aconchegante.
Mas, sabendo que o homem dos meus sonhos andava solteiro por aí, era um pouco difícil me concentrar em qualquer coisa.


Ainda mais porque eu me permitia sonhar acordada com o dia em que me encontraria em seus braços. Eu podia sentir lágrimas nos olhos só de pensar que isso seria impossível. Eu podia sentir a boca salivar só de imaginar o gosto dos seus lábios.


Tamirez era a pessoa mais próxima de uma amiga que eu tinha. Outra falsa. Ela só recorria a mim quando precisava de mim.
Apesar de que ela foi a única pessoa que ficou do meu lado quando meus pais faleceram.


Confesso, fiquei triste com a ideia de ser uma órfã, mas essa tristeza não durou por muito tempo. Eu não dependia deles para nada, e eles não me fariam falta. Na realidade, eu já não aguentava suas reclamações e tudo mais. Eu não conseguia mais conviver com suas enfermidades.


Certo dia, tive um despertar violento. Levantei-me tão depressa para cessar os esmurro que davam na porta que senti ódio. Ódio por terem me tirado da cama tão cedo, no meio de um sono bom.
Abri a porta com a testa franzida e os lábios fazendo biquinho, nem ao menos me dei ao trabalho de vestir algo decente para atender ao incômodo, usava uma camisola quase transparente.
- Ainda na cama, querida? Já são seis horas da manhã. – disse uma senhora com um sorriso amarelo.


- Ora, ora. Já se foram os bons modos! – resmungou em voz baixa, enquanto entrava em minha casa. – Vim cobrar-te o aluguel.
A expressão simpática havia desaparecido do seu rosto, agora ela mantinha os olhos severos e verdes sobre mim.
- Desculpe, mas quem é a senhora?
- Sou a senhora Josefa Magnorim.


Senhora Josefa era a proprietária da casa onde eu morava. Era a primeira vez que a via pessoalmente. Pelo que eu sabia, a casa era de uma neta sua que havia falecido naquele mesmo lugar. Por isso o aluguel era tão barato.
- Perdoa-me. É que, por não morar aqui, alguns inquilinos pensam que podem me sacanear. Já estava para fazer uma visita por cá, e seu atraso apressou as coisas. – explicou-se.
- Desculpe-me, é que aconteceu uma tragédia recentemente e eu não estava com cabeça para nada.
- Que tragédia? – os olhos verdes me encaram sem piscar, brilhando de curiosidade, carregados de máscara para cílios.


- Er, meus pais. Eles morreram. – falei de uma vez, irritada com sua falta de educação.
- Céus, essa casa precisa de uma pintura nova! – exclamou, olhando enojada a sua volta. Não demonstrou o mínimo de sensibilidade com a minha pessoa.


- Chega de papo. Preciso do meu dinheiro.
Ela não parecia precisar de dinheiro.
- Está no banco. Não tenho nada comigo agora. É mais fácil eu ir até lá e fazer uma transferência.


Senhora Josefa fungou, aproximando-se de mim. Olhou-me de cima a baixo com os olhos apertados, e questionou:
- Qual o seu nome, mocinha?
- Natasha O’Delly. – respondi, sustentando seu olhar.
- Natasha – repetiu, e avaliou-me entrementes, como se quisesse enxergar dentro de mim - Você se parece muito com minha neta. Ela também se chamava Natasha, mas costumávamos chamá-la de Tasha.
Por fim, dirigiu-se a porta, pronta para ir embora. Mas antes que eu fechasse a porta completamente, ela sorriu por cima dos ombros e disse:
- Espero que não termine como ela. Ateando fogo em si mesmo.


Aquilo era demais para mim.
Eu não tinha amigos, nem família. O grande amor da minha vida não me correspondia.
E eu ainda tinha que aturar uma velha ignorante e insensível.
Rondar pela cidade durante a noite embebedando-se de vinho não é uma situação bonita para se admitir. Mas foi isso que fiz. E, na manhã seguinte, amanheci num cemitério sem nem saber como havia parado ali. O túmulo a minha frente era onde jazia a tal Natasha Magnorim, ou como era conhecida publicamente: Tasha, a Bruxa.


O engraçado foi que, ao voltar para casa e entregar-me aos lençóis da minha cama, acordei com um gato preto olhando para mim e abanando o rabo.
Suspirei, acreditando piamente que ele não estava falando comigo, que eu estava apenas sonhando.
- Acho que estou delirando.
- Não está não, sou eu mesmo. – disse o gato.
Naquele momento, três dúvidas formaram-se em minha mente: Primeira, gatos pretos não dão azar? Segunda, gatos falam? Terceira, gatos sorriem? Pensei que faziam isso somente no país das maravilhas.
- Eu não dou azar. – respondeu-me o gato.
Logo, a quarta dúvida se formou.
- Você... pode ouvir meus pensamentos?
- Sim. – respondeu ele, sem emoção na voz.


Aquele gato foi quem me conduziu a julgar as pessoas precocemente, a tornar real os meus desejos, a buscar meus sonhos. Aquele gato me fez acreditar que ter o Gustavo era possível, que eu podia ter tudo o que eu queria. Aquele gato trabalhou tão bem a minha mente que eu passei a cometer... Se eu contar vocês não leram meu livro.


Todavia, quando dei-me conta de toda besteira que eu tinha feito acreditei que o melhor era me suicidar, antes que me internassem, me prendessem ou me levassem numa sessão de exorcismo.
Quando senti mãos acolhedoras me puxarem, meus cílios tremeram por um instante, mas então o borrão a minha frente perdeu forma, perdeu cor, perdeu sentido, e fundiu-se a escuridão. Eu tinha fechado os olhos.

Esta história foi escrita por Meh Souza, com autorização para postagem no site www.thesimstv.net
É proibida cópia parcial ou integral da história sem autorização da autora.
Para entrar em contato com ela, clique aqui e envie um e-mail.