2º Capítulo


Não que eu rejeitasse minha posição na sociedade, pelo contrário, estava orgulhosa por ser uma integrante da realeza.

Simplesmente preferia ter tomado leite diretamente dos seios da minha mãe quando bebê;

Ter dormido ouvindo histórias do meu pai todas as noites até sua partida;

Ter brincado no parquinho com as outras crianças, ao invés de estudar e estudar;

Ter arrumado um ou outro namorado ao invés de escolher aquele com quem casar e passar o resto da minha vida ao seu lado.

Minha sorte é que a Sr. Fátima sempre foi muito presente em minha vida. Era ela quem conversava comigo, me dava conselhos e carinho.

Eu tinha sérias dúvidas quanto ao amor do meu pai por mim. Não era segredo para ninguém que ele preferia um filho homem. Mas minha mãe tinha certa dificuldade para engravidar e... Bom, ela sofria de frustração desde que eu nasci.

Minha sorte é que ela vivia mais preocupada com sua aparência do que com qualquer outra coisa. Afinal, ela tinha pavor em envelhecer.

No dia em que ele morreu, após seu velório e tudo mais, ela veio conversar comigo. Disse-me que eu estava entrando na adolescência e, portanto, precisava encontrar um marido.

Tinha vários loucos prontos para assumir a posição de príncipe, mas eu apreciava os velhos costumes, aqueles em que a mulher se casa quando encontra o amor.
Anie: Vou me esforçar ao máximo para provar que sou capaz de reinar sem precisar de um homem, mamãe.
Sandra: Eu espero.

Quando fui para o quarto, lembrei-me de uma cena da minha infância. Minha mãe reclamava das minhas notas, pois oscilavam entre 7 e 8, e isso não era bom do seu ponto de vista. Encontrei-me com a Sr. Fátima no jardim e questionei:
Anie: Por que eu tenho que fazer tudo o que eles querem do jeito que eles querem se eu sou a princesa?
Sr. Fátima: Eles só estão tentando te passar sabedoria, minha pequenina.
Hoje eu tinha sérias dúvidas quanto a afirmação dela. Talvez eu não passasse de uma marionete que não podia nem escolher o próprio destino.

Então, ali estava eu, sentada no escritório do papai, lendo, lendo, lendo. Apreendia tudo o que via nos livros, mas não compreendia a lição que a vida queria me passar.

E agora, ao crescer, permanecia ali: lendo, lendo, lendo. Para que tanta sabedoria se minha mãe não confiava em mim e preferia que eu casasse para um príncipe cumprir o meu papel?

Eu sempre cuidei de mim mesma. Tá legal, eu tinha servas, um SPA real e tudo mais. Mas eu aprendera a cuidar da pele, do cabelo e a me vestir adequadamente para não estar sempre dependendo dos outros. Por que não aprenderia a cuidar de um reino?

Desci a escada e sentei-me ao lado de Sandra. Não olhei para ela ao dizer: “Ah não. Eu vou mostrar a todos que esses anos de estudo não passaram em vão. Eu vou provar que eu sou capaz”, todavia senti seus olhos em mim.