10º Capítulo

2 anos depois

Vez ou outra, eu sentia falta da Fátima. Soubera que ela estava aproveitando bem sua aposentadoria.

Certa vez ela me ligou, dizendo que tinha casado e tido dois filhos. Parecia mais feliz do que nunca. Todavia, não tornou a ligar mais.

Eu havia aprendido a lidar com a morte. E aprendi a me conformar com a vida. Eu havia aprendido a ser feliz. E, principalmente, aprendido a amar um homem.

Pela quinta vez naquele ano, fui visitar meus pais. Gostava de conversar com eles. Conversar de um jeito que nunca conversei enquanto estavam vivos. Assim, no meio do silêncio e com a brisa envolvendo meus cabelos, eu tinha a leve impressão de que eles me ouviam.

Kelvin e eu formávamos um casal perfeito. Saíamos para nos divertir nos finais de semana, afinal éramos jovens. Íamos ao teatro, ao cinema, ao museu, e no fim jantávamos num dos restaurantes da cidade.

Ele havia se sucedido na carreira como médico. Era um profissional respeitável e admirado pela sociedade. Um homem sábio e bondoso, era assim que era conhecido por ali.

Não demorou muito para tornar-se um médico admirável no hospital do Berço Divino. Kelvin nunca errara numa cirurgia, realizou inúmeros partos, e as doenças não tinham vez com ele.

Eu dedicava meu tempo para estudar coisas que sempre tive vontade, como astronomia. Era hilário, mas eu adorava lidar com as estrelas, com o mistério presente no céu.

Minha vida ficou ainda mais completa quando descobri que estava grávida. Eu iria dar continuidade a família, gerando o menininho que meu pai sempre quis. Ele nasceu com os cabelos ruivos dele, e com o narizinho de Kelvin. Mas os olhos... estes eram claros, feito os meus.

Kelvin parecia mais emocionado do que eu. Fazia de tudo para ser o melhor pai que pudesse. Eu também cumpria com minhas obrigações de mãe, mulher e princesa. Enfim, seríamos sempre presentes na vida do pequenino Luan.

Em suma, para dedicar-me ao meu filho e ao meu marido, decidi contratar alguém para cuidar dos negócios. Confiei a responsabilidade de administrar um reino a uma pessoa que a sociedade escolheu, conforme mandava a democracia. Seu nome era Victor. Não, eu não estava renunciando o trono. Deixara nas mãos de uma pessoa, Mas ela tinha que receber minha autorização para realizar qualquer obra ou por em prática qualquer plano.

Eu merecia um pouco de paz, não é mesmo? Eu merecia um dia de domingo fazendo piquenique com a minha família. E sei que a sociedade não me criticaria por isso, afinal, ainda que viesse a falecer, eu seria sempre lembrada como a jovem que reergueu a cidade, eu seria a eterna princesa de New Rose.

Fim