Entre Amigas

Capítulo 27 - 3ª Temporada

Imagine uma pessoa sem ter o que fazer durante as férias inteiras.
Pois é... O clima estava péssimo em casa, meus pais estavam brigando muito.
O pessoal da escola não queria me ver nem pintada de ouro. E também, a maioria foi viajar.
O que se faz numa hora dessas? Manda-se a pessoa para a casa da avó.
Apesar de não ter quase nada para se fazer aqui, de certa forma foi muito bom ficar longe de tudo e de todos por um tempo.

Aqui é tão fim de mundo, mas tão fim de mundo, que nem Internet tem.
Então não me restava muita opção a não ser ler os livros antigos que a minha avó deixava juntar pó na estante.
Mas sabe aqueles livros tão velhos, mas tão velhos, que você tem que ficar lendo com o dicionário do lado, se não, não entende mais da metade das palavras?
E ainda bem que até o dicionário da minha avó é velho, porque tenho certeza que a maioria dessas palavras sequer existem mais na nossa gramática atual.

Quando meus olhos cansavam de ler coisas que não me interessavam, eu ia pra uma pracinha que havia perto de casa, e ficava olhando as pessoas, pensando como que elas poderiam viver tão bem sem um shopping por perto, sem internet...
Elas parecem tão despreocupadas e mais felizes do que eu, que vivo rodeada de tecnologia e novidades, mas me sinto entediada e só na maior parte do tempo.
Será que essas pessoas é que eram realmente felizes e eu é que estava vivendo de forma tão idealizada, programada, que não era capaz de perceber isso?
Ou será que elas acham que são felizes com o pouco que têm por não conhecerem o que existe de melhor longe daqui?

A filosofia logo acabava quando Helena chegava com sua filhinha.
Ela estava na casa dos 30 anos, e eu me identificava muito com ela, porque era uma das pessoas com quem eu mais conseguia conversar.
O pessoal da minha idade parecia de outro planeta. Não conheciam metade das coisas que eu falava. Parecia que não tínhamos nada em comum, então faltava assunto.
No começo até me rodeavam, pois eu era novidade, a “menina da cidade grande”. Mas depois que o tempo foi passando, acho que eles começaram a me achar metida, e eu comecei a achá-los chatos, então passamos a não conviver muito.
Mas com Helena era diferente. Ela tinha visto e vivido coisas que praticamente ninguém ali tinha.
Ela e o marido ficaram muitos anos tentando engravidar. Fizeram diversos tratamentos, mas nada surtia efeito. Então eles decidiram adotar.
Tudo isso foi feito fora daqui, então quando eu falava de shopping, de games, de internet, ela não me achava ridícula, ou que eu estava sendo exibida.

A filhinha deles era uma graça! Chamava-se Gláucia – NOME INFELIZ! – e se não fosse por esse nome, raramente eu me lembrava daquele povo idiota, que só me fez sofrer.
Mas o mais engraçado é que eu achava a Gláucia a cara da Adriana – o que era irônico, praticamente uma piada pronta.
No começo eu não ligava muito, mas nos meses em que fiquei aqui, fui vendo a bebezinha crescer e ficar cada vez mais parecida com aquela bruxa louca da Adriana.
Comecei a especular com Helena como havia sido o processo de adoção. Ela sempre desconversava e por isso cada vez mais eu tinha certeza de que aquele bebê era a filha da Adriana com o Fernando, e que por algum motivo BIZARRO, que só Deus saberia qual é, nossos destinos se cruzaram.

Mas nada disso mais importava, porque as férias já estavam acabando. Não consegui com Helena as respostas que eu queria, e ao mesmo tempo estava morrendo de medo de voltar pra casa e pro colégio.
Não sabia o que estava me esperando, mas já fui me preparando para o pior.
Poderia até ser que as pessoas já teriam se esquecido de todo o barraco, e tivesse acontecido um novo pra elas terem o que falar.
Ou eu poderia ser linchada assim que cruzasse a porta da escola – o que acredito que é o mais obvio nisso tudo.
De qualquer forma eu já estava nervosa, com nó no estômago, e com saudades dos meses que passei naquele fim de mundo.
Ah se desse pra ficar aqui pra sempre...

Como acabar com a autoestima de uma pessoa em 3... 2... 1...

Débora: Oi, mãe!
Luiza: Seu pai está me enlouquecendo! E você trouxe um monte de roupa suja nessa mala pra eu lavar, né? Custava você ter lavado na sua avó?

Sim, a viagem foi ótima, obrigada por perguntar, e também obrigada por fazer eu me lembrar do porque que o fim de mundo era melhor do que a minha própria casa.
Não importava o que acontecesse: minha mãe sempre dava um jeito de colocar a culpa em cima de mim e fazer eu me sentir mal simplesmente por existir.

Por isso muitas vezes eu preferia ficar no meu quarto, no computador, onde eu não irritava ninguém.
Confesso que estava com medo de me conectar. O que será que aconteceu enquanto eu estava fora?
Abri o e-mail, e estava tudo bem. O mesmo besteirol de sempre: alguns spams, compras coletivas, mensagens genéricas....
Ok, respira fundo Débora, e vamos pras redes sociais!
Não estava tão ruim quanto eu achava que estaria. Algumas mensagens de xingamento, claro, afinal esse povo não sabe falar na cara, só se esconde atrás de contas fakes pra falar o que bem entende e o que não entende também – como se eu não soubesse verdadeira identidade dessas contas. Eles fingem que se escondem, e eu finjo que não sei quem são. Mas depois parece que tudo se acalmou. Pelo menos por enquanto.

Achei o C@rinhoso online no MSN.

Débora: Nossa, quanto tempo!
C@rinhoso: Verdade!
Débora: E aí, o que aconteceu na minha ausência?
C@rinhoso: Não muito. Claro que a Adriana tentou te detonar o máximo que pôde em tudo que era lugar. Mas quando o pessoal cansou do assunto e ela ficou conversando com seus próprios fakes, aí ela cansou também e parou de perturbar.
Débora: Você tem visto o pessoal da escola?
C@rinhoso: Vi o trio semana passada no shopping.
Débora: Que trio?
C@rinhoso: Ué... A Adriana, a Renata e a Vanessa.

Débora: O QUÊ????
C@rinhoso: Pois é...

Como elas poderiam ter feito isso comigo??? A Renata tudo bem, mas como a Vanessa pôde ter sido tão vira casaca, que se bandeou pro lado da Adriana, depois de tudo que ela fez com o Doug??? Que decepção! Viviam falando mal umas das outras mas estão lá, juntinhas no shopping! Meu Deus, como a gente se engana com as pessoas! E como elas não sabem o que querem da vida! Uma hora te amam, na outra te odeiam, têm memória curta e não são leais a ninguém.
Segunda feira eu vou chegar chegando na escola.
Elas que me aguardem!

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