Entre Amigas

Capítulo 09

Essas semanas têm sido ótimas! O Marcelo é um namorado... Namorado? Péra... A gente ta namorando? Ficando? Saindo? Sei lá! Enfim, ele é uma pessoa que adoro ter por perto, conversar com ele é muito bom, ele me entende, é carinhoso, atencioso. Mas ainda estamos escondidos.

Um monte de dúvidas surgiram na minha cabeça: será que, por ter beijado dois caras, em tão curto espaço de tempo, eu virei uma vagabunda como a Dri? Será que isso que temos é um namoro? Eu devo ou não devo perguntar para ele se a gente ta namorando? Eu devo contar sobre nós para alguém? Se eu contar para a Rê, será que ela deixaria de falar comigo? Pior que eu estava me sentindo aflita, sem ter ninguém para falar, conversar, desabafar.

Esses dias meus pais estavam bem. Bom, pelo menos na minha frente eles não estavam brigando mais, mas o que acontecia quando eu não estava por perto, aí são outros quinhentos. Tentei falar com a minha mãe sobre o assunto, mas ela estava ocupada, planejando o cardápio da semana, então quando ela está fazendo isso, ninguém pode interrompê-la, a menos que queira ouvir poucas e boas.

Quando cheguei na escola decidi conversar com a Nessa. Estava com medo, não sei se ela entenderia, uma vez que eu também a recriminei tanto quando ela me escondeu o namoro com o Doug, mas eu não agüentava mais, tinha que conversar com alguém, e decidi arriscar. Não tinha melhor jeito de contar a situação sem ser como se tirasse rapidamente um esparadrapo.

Vanessa: Nossa, mas vocês estão namorando?
Débora: Não sei! Você acha que eu devo perguntar isso pra ele?
Vanessa: Sei lá! Eu não sou a melhor pessoa para te dar esse tipo de conselho. Até hoje só namorei, ou melhor, namoro o mesmo menino, e não foi assim, a gente não ficou antes, ele já me pediu em namoro primeiro.
Débora: Nossa, mas ainda existe isso, de pedir em namoro?
Vanessa: Se ainda existe eu não sei, só sei que com o Doug foi assim.
Débora: Mas, o que eu devo fazer?
Vanessa: Realmente não sei, Debby. Não entendo nada sobre meninos mais velhos. A única pessoa que poderia te ajudar sobre isso você sabe quem é, né?
Débora: Sei, mas nem vou cogitar! Se com o Nando já aconteceu o que aconteceu, imagina o que ela não faria para me separar do Marcelo...

Mas o dia estava só começando, ainda tinha muita coisa pra acontecer. A professora de redação resolveu colocar a gente em dupla para fazer um trabalho. Normalmente eu ficaria com a Nessa, mas ficou aquele clima chato do tipo: minha amiga ou meu namorado? Então eu decidi facilitar pra ela, dei uma piscadinha, e ela entendeu. Corri pra mesa da Rê, mesmo morrendo de remorso por não contar a ela sobre a minha relação com o Marcelo, mas como ela e a Dri continuam em pé de guerra, a Dri me interceptou no meio do caminho, me puxou pelo braço, falando:

Adriana: Debbynha do meu coração vem fazer o trabalho comigo!

E ainda deu uma encarada na Rê! Eu fiquei entre a cruz e a espada, mas não podia fazer nada, pois a Dri estava me puxando forte. Nessa hora me deu um ÓDIO da Adriana! Nossa, eu senti vontade de fazer um escândalo! Mas eu precisava ir bem nesse trabalho, tirar uma nota boa, pra escapar da recuperação. A coitada da Rê teve que fazer o trabalho sozinha, então fiquei com mais ódio ainda da Dri, com essa mania de fazer da vida das pessoas o que ela bem entende, sem respeitar a vontade dos outros. Mas me lembrei do que o Doug me disse, respirei fundo, e encarei o problema.

Seria fácil se eu não estivesse com uma pessoa tão complicada do meu lado. A professora nem terminou de explicar direito e a Dri já tinha todo o trabalho pronto na cabeça dela. Eu não tive chance de expor minhas idéias. O trabalho era em dupla, mas para a Dri não existe dupla, mas apenas ela. Eu não gostei do tema. A Dri queria fazer o trabalho sobre moda, claro, mas eu queria fazer sobre algo mais profundo, como a crise mundial, que é algo que, além de estar em evidência, todo mundo precisava ficar por dentro. Não que moda não seja importante, mas com certeza a professora valorizaria mais um trabalho sobre um tema tão atual, do que sobre “futilidades” do dia-a-dia. A Dri não precisava de nota, já tá praticamente passada de ano, e eu precisava aproveitar aquele momento e pegar uma nota boa com aquele trabalho. Mas com a Dri não tinha conversa, ela decidiu e pronto.

Então eu tinha três opções: ou eu falava pra ela que não concordava, que queria outro tema, e a 3ª Guerra Mundial iria começar; ou eu pedia pra mudar de dupla, e a 3ª Guerra Mundial iria começar; ou eu calava a boca e deixava rolar, pois a Dri, apesar de tudo, é uma boa aluna, e eu teria menos trabalho e uma excelente nota garantida. Escolhi a terceira opção.

Parecia que tudo iria acabar bem, né? Pois é, eu também achei que acabaria, mas com a Dri nada é fácil. No dia de entregar o trabalho, ela veio toda convencida, e foi uma LUTA eu conseguir que ela me deixasse pelo menos dar uma olhada rápida, antes que ela entregasse. Quando eu vi, havia um erro gravíssimo: algumas fotos que ela colocou como sendo da moda nos anos 60, na verdade eram dos anos 50. Eu sei bem disso porque aminha mãe tem um monte de roupas da minha vó, daquela época, e ela me deixava brincar com essas roupas quando eu era pequena.

Então novamente em me vi tendo que escolher opções: falar para a Dri sobre o equívoco e iniciar a 3ª Guerra Mundial ou não falar nada e ficar de recuperação? Só que dessa vez eu cometi o estúpido erro de escolher a primeira opção...

Bom, daí eu ouvi de tudo, desde que eu a estava chamando de completa idiota e ignorante, que eu não entendia nada de moda e me vestia como uma songa monga, até que nenhuma roupa cabia em mim de tão baleia que eu sou. E, é claro, eu não ouvi sozinha, a escola inteira ouviu os gritos da Dri. Na hora não me ocorreu nada, a não ser correr pro banheiro chorar, rezando para me tornar invisível. Rê veio atrás de mim, perguntar se eu estava bem, e falou mal pra caramba da Dri. Claro, elas estavam brigadas, não se esperava outra reação, né? Mas poxa, onde estavam meus amigos nessa hora? Porque ninguém mandou a Dri calar a boca? Porque deixaram que ela me humilhasse daquela forma? A verdade é que quando se precisa de alguém, ninguém está ali para te defender e comprar a sua briga. As pessoas são covardes, só ficam na sua, achando que é melhor falar mal pelas costas do que defender os amigos e ajudá-los a resolver os problemas.

Eu não preciso dizer que agora a Dri não fala mais comigo – e, sinceramente, não está fazendo a menor falta – e que ela está espalhando um monte de mentiras a meu respeito, principalmente para o Nando, dizendo o quanto eu sou arrogante, falsa, grossa, dona da verdade, gorda, e por aí a fora.

Engraçado, eu nunca tive problemas com meu peso. Nunca me achei uma menina gorda. Sou mesmo mais cheia que minhas amigas, mas me sinto bem. Tenho namorado... Er, ou sei lá o que o Marcelo é, que me aceita com meus pneuzinhos, o próprio Nando me beijou do jeitinho que eu sou. Minhas amigas nunca me chamaram de gorda, nem nunca ouvi deboche de ninguém, pelo menos não na minha cara. Com certeza as pessoas falam pelas costas, mas eu não me preocupo com isso. Mas a Dri falou de propósito, para ofender, para magoar.

Quando a professora entregou os trabalhos corrigidos, é claro que havia um grande desconto na nota, devido àquela foto errada. A Dri pegou o trabalho, viu todas as anotações que a professora fez e olhou para mim com a maior cara de raiva. Engraçado que ela erra, eu tento avisar, ela fica com raiva e quando recebe desconto na nota, fica com mais raiva ainda de mim! Eu é que deveria ter ficado com raiva, aliás eu estou com raiva sim, afinal, por causa da Dri e o seu grande ego, eu fiquei de recuperação.

 

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