Capítulo 04

- Oi! Por que você está chorando? – perguntou Flávio.
- Meu pai... Ele me bateu muito esta noite. – respondeu a moça.
- Como assim? Você está bem? – preocupou-se Flávio.
- Dói muito!
- Onde ele bateu em você?
- Em todo lugar! No rosto, nas costas...

Flávio ficou comovido, e num ato de compaixão, pegou as mãos da moça e pediu que ela se virasse para ele, pois ele queria ver o seu rosto.
Não havia nenhuma marca, nenhum sinal de violência.

- Então eu acho que morri! – falou com certo tom de alívio.
- Não, não pode ser! Isto é um sonho, eu tenho certeza disso! – retrucou Flávio, um tanto quanto assustado.
- Pense bem, moço: olha que linda essa praia, que paz, que tranqüilidade. Eu não tenho marca nenhuma no corpo, agora nem dor mais sinto. Só posso estar morta. Nós dois estamos!
- Não, você está enganada! Eu sei como sair daqui. Você quer que eu te mostre o caminho de volta?
- Não! Não quero voltar para casa! Quero viver aqui para sempre!
- Eu também adoraria viver aqui para sempre, mas e as outras pessoas? E o mundo lá fora?
- Mundo? Existe um mundo lá fora?


- Claro que existe!
- Nunca ouvi falar de nada além da vila onde moro.
- Sério? Nossa, existem tantos lugares lindos! Você não iria acreditar! Talvez se você soubesse, mudaria de opinião.
- Como assim?
- Existem lugares tão lindos quanto este, mas na vida real.
- Mas isto aqui é real.
- Não, não é. Eu estou sonhando e você é fruto desse sonho. O porquê eu não sei...
- Será? Eu sei que eu existo, sei tudo que eu vivo e passo, tenho certeza que se tem alguém aqui que é fruto do meu sonho, esse alguém é você!

Flávio abaixou a cabeça, deu risada, achou aquela moça tão pura e inocente. “Será que ainda existem pessoas assim nesse mundo? Ah, com certeza não!”.

Ao abrir os olhos novamente, viu que estava em seu quarto. Já era dia, estava atrasado para o trabalho. “Ah, sabia que era um sonho!”.
Abriu a porta e viu que tudo continuava na mesma: a mulher deitada no chão do banheiro, as crianças dormindo no sofá, a casa revirada do avesso.
Não se importou com nada, apenas tomou um banho, vestiu-se, e foi para o trabalho.
Durante todo o dia aquele sonho não saiu da sua cabeça.
“Preciso voltar lá! Preciso encontrar aquela moça novamente!”.

Os sons dos passos duros de Clemente acordaram Marcela.
“O moço estava certo: eu não morri, era apenas um sonho mesmo”.
Marcela estava confusa. Não sabia se sentia alívio por não estar morta, ou desespero por estar viva, mas naquela casa, naquela mesma vida.
Decidiu não sair da cama, ficou ali boa parte do dia, apenas se lembrando do sonho que teve, dos momentos de paz que ele lhe trouxe.
“Será que consigo sonhar de novo com aquele lugar? E aquele moço? De onde será que ele surgiu?” – foram os pensamentos que tomaram o dia todo de Marcela.

Sérgio estava preocupado com Flávio. Ficou o dia todo observando o genro: parecia que ele estava ali, sem na verdade estar.

- Problemas com a Letícia novamente? – arriscou Sérgio, quebrando aquelas horas de silêncio.
- Ah, os de sempre... – tentou esquivar-se Flávio.
- Olha, eu sei que você agüenta muita coisa por minha causa, por causa da Paula. Quero que saiba que conhecemos bem a filha que temos. Eu considero você como o filho que nunca tive. Ver a Letícia nessa situação e tão doloroso quanto ver o que ela faz com você. Você precisa tomar uma atitude!
- Mas o que eu posso fazer, Senhor Sérgio? Ela não me ouve. As crianças, menos ainda.
- Talvez você precise de um tempo, viajar.
- O que eu preciso infelizmente não está ao meu alcance... – disse Sérgio com ar de desapontamento. “Eu queria era viver naquele lugar lindo! Queria que ele existisse de verdade. Queria que mais pessoas como aquela moça também existissem de verdade...”.

Sérgio sabia que mais cedo ou mais tarde teria que contar a Flávio sobre a Vila.
Alguns garimpeiros estavam reclamando de dores, alguns ficaram seriamente doentes.
Existia uma possibilidade, embora ainda não confirmada, da mina estar contaminada. Se isso acontecesse, seria o fim do império da família.
Sérgio temia que todo o segredo viesse à tona, caso algum garimpeiro morresse. Era preciso tomar atitudes drásticas e rápidas, pois quanto mais o tempo passava, maiores eram as chances dos moradores da vila fazerem um motim. Isso seria péssimo para os negócios.
Sérgio precisava mandar alguém de confiança para lá, já que ele e os irmãos tinham medo de enfrentar a fúria dos garimpeiros e também tinham medo de ficar doentes, seja lá qual fosse o problema que estivesse acontecendo na mina, se é que ela estava mesmo contaminada, ou se aquilo tudo era simplesmente fingimento “daquela gente sem eira nem beira”, como eles costumavam chama-los, e que todo esse “drama” era uma armação, que na verdade os garimpeiros estavam armando para exigir mais e mais “bobagens”, como eles consideravam.
Mas isso era tudo muito arriscado, e quanto mais gente soubesse que aquele lugar existia, maior seriam os riscos. E Sérgio sabia que Flávio era uma pessoa muito íntegra, e que talvez não aceitasse que o seu mentor praticasse tais atos. Para ele poderia ser uma decepção, e essa decepção poderia colocar em risco toda a operação. Mas ao mesmo tempo Sérgio precisava de alguém de confiança para investigar o caso, antes que os garimpeiros se rebelassem e aí sim os problemas seriam maiores.
Era uma questão que Sérgio classificou como “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”.

Marcela olhou-se no espelho e ficou com vergonha de sair de casa. Pediu à mãe que deixasse que ela não fosse dar aula de artesanato naquela tarde. Dora ficou sensibilizada e preocupada com a filha. Concordou que ela ficasse em casa, pois seria uma vergonha muito grande a vila inteira ver a sua filha naquele estado. E por mais que todos soubessem o que acontecia de verdade, era sempre desagradável ter que inventar desculpas esfarrapadas para os visinhos.

Dora mandou Lúcia ir dar aula de artesanato no lugar de Marcela. Lúcia ficou inconformada, e jurou que contaria ao pai. Quando Clemente voltou para casa, naquela noite, Dora pediu que ele deixasse Marcela em paz, que ela mesma iria cuidar da filha. Clemente não sentia remorso do que havia feito. Para ele, ele estava correto e seus atos eram para educar as filhas.

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